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Affichage des articles du 2021

La nouvelle normalité

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Fico me perguntando se vou me lembrar de verdade de tudo o que aconteceu nos anos de pandemia e nos processos que rolaram durante esse período. Tanta coisa aconteceu que já não sei se me reconheço bem. De todas as coisas narradas aqui percebo que já sou tão outra, ou tantas outras, que o momento de retorno ao "novo normal" parece um abismo profundo, povoado de névoas e fragmentos abstratos. Me pego num ápice estranho da vida adulta: as contas já não são mais novidade e não assustam tanto, os afazeres domésticos são empurrados até que possam ser feitos no limiar do tolerável, a comida está bem feita e me sinto saudável por dentro, a rotina é macia e delicada, previsível e acolhedora, com pequenos toques abrasivos que circundam o marasmo. Nos últimos dois finais de semana senti genuíno tédio. O tédio que me carrega diretamente para os meus oito ou nove anos de idade nas tardes quentes em um apartamento em Copacabana. A televisão ligada, a água com gelo, o suor na testa. Tédio,

Carta pra você, Ale

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Oi Ale, Hoje eu sonhei com você depois de muito tempo sem que você entrasse nos meus sonhos. Quando a gente se encontrava você estava bem triste porque tinha terminado um relacionamento. Você estava com uns amigos, também (e eles eram bem humorados e tentavam te botar pra cima), mas você só queria e precisava desabafar. A gente andava junto por uma cidade à noite. Entramos em um lugar que parecia um desses labirintos de mentirinha. Você me falava dos seus sentimentos e eu praticamente só ouvia. Você foi meu primeiro amor romântico. Eu não sei se você sabe disso e também não sei se vou conseguir voltar a falar com você. Não sei onde você está, não sei seu cheiro, não me lembro nem bem o tom da sua voz. Eu só sei que existe um pedaço enorme de você no meu coração. Todas as cartinhas que eu mandei, livro, os pedacinhos de cabelo. Não sei o que foi tudo aquilo, não tenho rastro nenhum de nada do que escrevi ou te falei. A única memória que eu tenho é revisitar meus sentimentos e pensar no

Entre la peur et la plénitude

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Um balanço tênue e irremediável circundam o pavor e a plenitude. É estranho saber que ser humano é fazer parte de uma catástrofe anunciada. Viver dias de gozo e dias de tristeza alternados parecem fazer parte da existência. Senti hoje um aperto ao ir no supermercado, ao ler as notícias, ao saber que 40% dos brasileiros vivem em situação de risco alimentar. Me sinto feliz com as coisas que conquistei, mas tão desesperada e triste pelo o que nos tornamos. Pelo o que colhemos enquanto humanidade desde o início dos tempos. Me sinto afundada no meu próprio ser e na minha própria glória, comemorando meus esforços pequeninos no meio de um incêndio. Não tenho mais vontade de andar pela cidade ou de fazer as coisas do dia a dia. Parece que me acomodei na concha pequena e dura do isolamento e do fim em mim mesma. Sou um grãozinho de areia num universo de dor. Afinal, sou gente.

La peau

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Efervescente a pele que arrepia sem motivos. Um embrulho que começa no ventre e sobe até a garganta. Tantas vontades fora de questão, lapsos de instinto impulsivos. A boca enche de água, os dedos se mexem rápido. Os quadris balançam demoradamente na costura da calça. As pernas bambeiam sem pudor. Tem dias que é difícil ser humano e controlar as vontades brutas.

L'éternelle envie de pleurer

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Nada dá conta da imensidão que tem sido meu coração. De um jeito muito estranho eu sinto vontade de chorar. As coisas batem fundo no meu estômago e se transformam num emaranhado de sentimentos afogados. Afogados porque não conseguem chegar à superfície para gritarem palavras chave. Para me darem pistas. O que eu guardo dentro do peito é tão múltiplo quanto o nervosismo vasto do desconhecido. O que eu guardo são fragmentos de mim, são desejos inconstantes. É a falta de entendimento, de julgamento, de propósito e de horizonte. Eu vivo. Só vivo. Faço as mesmas coisas de todos os dias: eu acordo, eu como, me hidrato, me exercito, beijo meu amor. Eu respiro fundo, eu trabalho, eu tiro os óculos pra olhar pras árvores e descansar a vista. Não há nada mais que isso. E, ainda assim, eu sinto uma vontade constante e persistente de um choro escasso. Me inundo de um existencialismo sem sentido. Cheguei até aqui com tantas ressalvas, com tanto medo, com tanta insegurança. E percebi que sou aquela

La deuxième pire année

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Hoje é dia 27 de junho de 2021. Dia 453 desde o início da pandemia. Eu e Antonio estamos vivendo nesse mundo apocalíptico há 1 ano e 3 meses e, bom, muitas coisas aconteceram. Hoje é um dia importante porque entreguei a última coisa necessária pra encerrar meu primeiro ano de doutorado: meu projeto de pesquisa. Daqui a uma semana, mais ou menos, faço a última apresentação e assim encerro esse ciclo. Hoje eu tive uma crise de choro logo depois de enviar o documento. Minha vista está cansada e meus olhos doem. Meu coração está apertado e sinto o bruxismo querendo atacar novamente. Este certamente foi um dos anos mais difíceis da minha vida. Especialmente entre junho de 2020 e junho de 2021. Tudo o que eu vivi nesse período contribuiu para crises de ansiedade, expectativas e frustrações. Posso passar rapidamente por tópicos: 1. pandemia; 2. mudar de casa; 3. começar a dar aulas online; 4. passar num doutorado no exterior; 5. processos burocráticos para tirar o visto; 6. empacotar coisas e

Lettre au futur

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  Se um dia você estiver lendo isso, muito tempo depois dessa loucura que foi os anos de 2020 e 2021 no Brasil por causa do Coronavírus, saiba que você é uma pessoa bem forte e resiliente! Nesses anos você começou bicos, sustentou a casa, estudou loucamente, fez o primeiro ano de doutorado da forma mais louca e entregue possível. Você tem sido muito forte, vou te falar... eu sei disso porque estou exausta. Você sempre disse que queria ir para outra cidade e fazer milhares de coisas porque sentia que ainda tinha muito sangue no olho. A diferença é que você se imaginava numa cidade tipo Berlin, vivendo mil aventuras, mas você continua vivendo essas aventuras porque elas estão dentro da sua cabeça. Você é um vulcão, mulher. Sua mente borbulha, você não para porque não consegue dar conta da curiosidade que tem dentro de você. Nunca deixe ninguém te dizer que você não é capaz porque você sabe que é, você passou por essa pandemia tanto quanto eu. Nesse momento meus olhos estão ardendo de fic

Dormir au soleil

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Eu já tinha chegado perto de um desmaio há muitos anos atrás, numa aula de pole dance. Foi muito esquisito porque comecei a ver umas manchas pretas e imediatamente meu professor me sentou e ofereceu água. Mal sabia eu que esse quadro iria se repetir. Hoje foi um dia quente, mas aqui na serra tem chovido todos os dias à tarde. Hoje não seria muito diferente. Acordei sete e meia, assisti aula de métodos quantitativos, bateu fome e tomei café da manhã antes mesmo da aula terminar (uma das maravilhas que o home office pode proporcionar é desligar a câmera para comer tranquilamente). Deu preguiça, mas sugeri pro Antonio de caminharmos antes que a chuva chegasse e depois de uma hora de preguiça resolvemos sair. O dia estava muito bonito e logo o sol se mostrou bem valente. Cumprimentamos Carlindo na varanda e fomos rumo à nossa suadeira do dia. Um belo dia! Subimos o morro do Boa Sorte com várias ladeiras íngremes e algumas flores nos cabelos. Daí resolvemos comprar um mel e fomos até a pont

Pas de sens

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  Tirei alguns dias de férias (duas semanas, mais ou menos) e fico me perguntando o que fazer esse ano que entra. Estranho pensar que quase tenho 30 anos, uma carreira acadêmica em formação – bem no estilo “deixa a vida me levar” – e uma profissão temporária freelance online, o que me toma mais tempo e menos dinheiro do que eu gostaria.  É estranho pensar que sou adulta. Que sou casada no papel, que saí da casa dos meus pais aos 22 anos e que aprendi muito nos últimos anos. Dá um pouco de medo, na verdade. Medo porque a vida adulta parece ter vindo de mansinho. O que foi bom, porque tive muito suporte e apoio da minha família até aqui, mas também é muito assustador saber que você tem que andar com os próprios pés. Que o dinheiro e o trabalho são importantes, que há mais esforço do que descanso e mais estresse do que tranquilidade. 2020 foi um ano bizarro – a única palavra possível. Cheio de surtos de ansiedade coletiva (e global), uma pandemia que nos deixou mais conectados principalme