L'éternelle envie de pleurer

Nada dá conta da imensidão que tem sido meu coração.

De um jeito muito estranho eu sinto vontade de chorar. As coisas batem fundo no meu estômago e se transformam num emaranhado de sentimentos afogados.

Afogados porque não conseguem chegar à superfície para gritarem palavras chave. Para me darem pistas. O que eu guardo dentro do peito é tão múltiplo quanto o nervosismo vasto do desconhecido. O que eu guardo são fragmentos de mim, são desejos inconstantes. É a falta de entendimento, de julgamento, de propósito e de horizonte.

Eu vivo. Só vivo.

Faço as mesmas coisas de todos os dias: eu acordo, eu como, me hidrato, me exercito, beijo meu amor. Eu respiro fundo, eu trabalho, eu tiro os óculos pra olhar pras árvores e descansar a vista. Não há nada mais que isso.

E, ainda assim, eu sinto uma vontade constante e persistente de um choro escasso. Me inundo de um existencialismo sem sentido. Cheguei até aqui com tantas ressalvas, com tanto medo, com tanta insegurança. E percebi que sou aquela pessoa que conquista tudo, que consegue tudo o que se propõe a fazer. Dei tantas lágrimas nos processos que decorreram nos últimos meses e agora me preencho de uma secura grande. Me pergunto por quê diabos estou aqui. Me pergunto o que faz sentido numa vida que construo a passos de formiguinha. Sou uma formiga operária. Faço, faço, faço. Construo, construo, construo. O que acontece depois? É isso só um instinto irremediável e eterno? Por que caminho?

Amanhã começo o primeiro dia de trabalho na empresa dos meus sonhos. Fiz muito e muito pouco até aqui. Não sei porque estou aqui. Não sei o que esperar disso.

A Beatriz de antes da pandemia estava tão obcecada por uma ideia e caiu de uma altura tão assustadoramente alta que chorou, chorou, chorou. Gastou toda a água. Agora, a Beatriz do presente, só caminha. Não sei pra onde. Não sei porquê.

Ser uma jovem no meio de uma pandemia mundial é um processo de muito tapa na cara e corda na boca. É um processo de calar e seguir. Viver isolada e sem horizonte é abissal, mas também só viver pelos propósitos faz tanto sentido assim?

Sou essa formiguinha. Pequena e forte. Incansável. Atenta e frágil. Sem planos, sem horizontes, sem conseguir torcer o pescoço e olhar pro céu. Sou secura nos olhos, sou as rachaduras nos meus dentes, sou um animal docilizado e uma mente borbulhante. Mente essa que trabalha no agora e para o agora. Mente que desenvolve tantas inteligências, elabora tantas teorias, descreve perfeitamente tantos processos, mas que ressente a falta do choro e que convive com a eterna vontade de chorar.

Commentaires

Posts les plus consultés de ce blog

Nous

Le coeur brisé

Adaptabilité