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Adaptabilité

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  A maior qualidade de ser humano é a inteligência. A segunda maior qualidade é a adaptabilidade. Isso explica porquê alguns seres humanos conseguem viver em cenários tão extremos, de frio, guerra, ou falta de recursos básicos, enquanto outros precisam de uma estrutura tão específica para dormir, tomando melatonina. Tudo incomoda na proporção que nos é entregue. E tudo nos é irrelevante na mesma proporção. Quando mudamos de cenário, de personagens, de roupa, as proporções também mudam. E o maior alterador de proporções que existe é o tempo. Tão maravilhoso, tão generoso. Porque, na verdade, tempo e adaptação correm juntos e permitem que as coisas mais banais se tornem monstruosas, e que as mais horríveis se tornem belas. Se, há um ano atrás, disesse pra mim mesma que estaria feliz, genuinamente feliz e realizada, me sentindo uma das personagens de Sex and the City (do nada!!) eu nunca acreditaria. Nunca acreditaria que tantos rompimentos me fariam encontrar uma pessoa tão maravilhosa,

Le coeur brisé

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  Como o amor pode florescer de um coração partido? Fico me perguntando se cresce pelas ranhuras, ou se abraça as feridas como uma trepadeira. Talvez germine pela parte mais superficial e tenha mais raízes do que caule, remendando os cortes. Acho que o processo de cura das feridas depende de inúmeros fatores, mas tenho certeza, também, que um novo amor tem a receita do adubo certo pra agilizar a cicatrização. Ainda mais o amor do cuidado, da atenção ativa, da clareza com sensibilidade e senso de humor. O amor dos beijos, mas também do espaço, o amor da construção, com toques do inesperado e do não planejado. Uma matemática estranhamente combinada, um formato que nunca tinha visto antes. É estranho como um porto pode ser identificado tão descarada e rapidamente, enquanto esse poço de segurança e tranquilidade. É bom sentir esse útero. E, me parece, que é a primeira vez que o estou sentindo. Um acalento profundo e envolvente. Tanto em comum que chega a dar desconfiança: será mesmo que is

L' océan

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  O amor é um oceano. Com tantos mistérios e profundezas, mas com uma costa esplêndida, que encanta e perturba. Guarda segredos infinitos, é impossível descobrir todos os seus cantos, todas as suas belezas e todos os seus horrores. São inúmeros, infindáveis, alguns ainda nunca vistos antes. Tem suas ressacas terríveis, que invadem a terra firme, e tem suas marés baixas que se afastam tão lentamente que às vezes nem percebemos. Tem quilômetros a serem navegados, mas a pressão subaquática pode comprimir os pulmões e deixar sem ar quem se arrisca a ir muito fundo. Mas também é só quando corre-se o risco que se veem todos os segredos que às vezes nunca foram vistos. Hoje, pela primeira vez, o mar abrandou. Não fui tocada pelos horrores das tempestades catastróficas e senti o marasmo e o cheiro de sal que carregam as memórias. Hoje, só hoje, os milhares de caminhos que podem ser navegados me levaram à doçura do amor. Navegante, ou náufraga, talvez nunca consiga dizer. Talvez dependa da pers

Nous

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  Eu nunca sei se penso em você ou se penso em nós dois. Que você está na minha cabeça diariamente é fato, mas não consigo distinguir se a saudade que sinto é de você ou de nós dois juntos. É tão estranho. As músicas que eu ouço viajando são as músicas que ouvíamos juntos. O jeito que escolhíamos um restaurante pra jantar. O jeito que eu ficava nervosa com a sua direção ou os assuntos do carro. Nosso amor sempre foi muito viajeiro e pegar a estrada de outra forma me parece quase alienígena. Acho que sinto saudade do quanto era feliz. Do quanto me sentia em paz e em casa. Você era a minha casa. Agora não sei mais dizer o que ela é, ou mesmo onde ela está. Tudo me lembra a nós dois. Todos os dias. Não tem um único dia que eu não pense em nós.

Le pleur

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  Sou profissional do sofrimento, professor do sentimento do amor fui artesão. Mestre do viver já fui chamado, conselheiro do reinado cujo rei é o coração, Mestre do viver já fui chamado conselheiro do reinado cujo rei é o coração. Quebrei do peito a corrente que me prendia à tristeza, dei nela um nó de serpente, ela ficou sem defesa mas não fiquei mais contente, nem ela menos acesa. Tristeza que prende a gente dói tanto quanto a que é presa, abre meu peito por dentro, o amor entrou como um raio, saí correndo do centro dentro do vento de maio, dentro do vento de maio.

Débordant

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  pulsa a pele nua micro explosões sem tato, a buceta lateja sem espaço, se espandindo no tesão do corpo que sente tanto quanto tempo esperei que dedos escorregassem meus braços e agora sinto plena as notas do sopro interno me espero nos lençóis, me laço com cordas invisíveis puxadas manualmente gozo com o vento escasso do calor tropical sudestino, me acabo nos beijos demorados aos meus dedos esguios me desfaço do outro - tenho tudo em mim e sinto meu ventre arder por estar abraçada em mim mesma sou o semi-toque, a semi-escrava e a semi-deusa reutilizando essa casca humana. passeando pelas memórias e inglórias de prazer mudo, mas contente em ser despido abro os lábios para tocar meus próprios sabores e me perfumo com o cheiro do corpo exposto tenho mais em mim do que qualquer um pode alcançar. sou vespa ágil, barulhenta e dolorosa que pousa em outros corpos sem perguntar sinto os quadris redundantes e as costas macias de me permitir lânguida espreguiçar nas cobertas que me tocam mais i