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Affichage des articles du juin, 2010

Croire

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Cuidados com os pedaços de sonho no chão! Veja bem, eu sei que sou desastrada. Você já deve ter percebido. Mas sabe o que é? A vassoura tá muito longe, eu tô com dor de cabeça, não vou varrer isso agora. E, não!, não precisa varrer, de forma alguma. Na verdade eu tenho super bonder em algum lugar por aqui, acho que vou tentar colá-los de volta. São bonitinhos até, não são? Assim, preto e branco com esses desenhos abstratos. Você prefere a cores? Mas meus sonhos não são a cores! Os seus são? Isso é tão esquisito! Ah, eu sabia que não eram. Mas talvez o de alguém seja, talvez o de alguém com muito controle mental e espiritual. Talvez de alguém como, não sei, um cachorro talvez. Não!, não!, não quis dizer que cachorros tenham controle mental. Espírito? Espírito nem nós temos! Mas, o que eu estava dizendo?, ah, sim, talvez cor tenha a ver com pureza! Crianças devem sonhar colorido! É simples não ter espírito. Você acha realmente que depois que você morrer as minhocas não vão se alim

Fragmento II

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Abelardo não tinha mais olhos. Estava cego. Abrir as pálpebras era um movimento longo, doentio, escuro. Afinal, já eram quatro horas da manhã. Quatro horas da manhã de um domingo e ele, no seu quarto escuro, com Maria aos braços. Ela, com a cabeça deitada em seu peito, sufocando-o. Aliás era exatamente por isso que havia acordado: o ar. O ar que levitava sob seus ombros com doçura. Maria não era pesada, era leve, por mais dolorosa que fosse. Tirou-lhe os cabelos do rosto, jogou sua cabeça com delicadeza para o lado e saiu da cama. Cego. Demorou alguns segundos para voltar a si. Havia misturado tanta coisa no organismo que nem sabia mais dizer o que era o quê. Chegou na cozinha e a luz dilatava suas pequenas pupilas. Cego. - Acordou? Ah! Fernando! Fernando não havia ido embora, percebeu com alegria. Mas obviamente não transpareceu nenhuma emoção além do incômodo da luz nos olhos. - Sim, acordei. Pensei que você iria para casa. – tossiu. - Prometi que levaria Maria. Como ela a

Bouches

Tambores internos batendo com força. Dava até um arrepio só dela pensar na sua respiração ofegante de tanto correr de um tira com capa de chuva. Seus pés descalços no chão, cheios de lama e cacos de sonhos. As pupilas dilatadas de medo. - Você esteve aí o tempo todo? Ele a olhava assustado, como se fosse a última pessoa que ele pensaria encontrar. E ela realmente era. - Depende do que você chama de "o tempo todo". Só desci pra fumar um tabaco, há uns vinte minutos atrás. Seus cabelos cobriam os olhos e ela quase não enxergava-o com clareza. Mas não fazia particular questão. Pelo cheiro de sangue e álcool ele com certeza havia se metido com algum policial com capa de chuva. Ele cuspiu no chão enquanto ela sentava com brusquidão no chão sujo debaixo de um vazio viaduto. Ele coçou os cabelos: - Então tá. Eu posso te pedir um favor? Tenho que resolver uns problemas e tem uma menina no meu carro esperando - ele enfim parou para respirar - Você sabe como é o carro, né? - Cl

Femelle

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Foda-se a porra da moralidade.

Fragmento I

Serpentes circulando por meus veios sanguineos. Tudo parece simplesmente rodar vagarosamente por sua mente cheia de ar. Parece que você me deixa nesse estado cabuloso de espírito, como se seus olhos fossem a porta do inferno. Nesse mesmo dia pequenas falhas foram percebidas por ele no topo da cabeça, como se fossem simples esperanças - em forma de fios de cabelo - que estivessem caindo sob seus ombros, sem poder colocá-los no lugar. Seu hálito cheirava a tabaco roubado e sua alma a verniz. Verniz sim, para protegê-la de pequenas interferências cegas e sem compaixão. Ele ouvia um disco antigo dos Rolling Stones, o mesmo que fala de escravos e amor - e não sentia nada além de tontura. Suas mãos, paradas e desfeitas de um contínuo movimento obsceno. A cada vez que tragava o cigarro com força, isso lhe dava um prazer perdido, incontestável, obsceno. Ela, pelo contrário, se debruçava contra suas pernas, jogadas no sofá vermelho. Tudo nele simplesmente a encantava - até o simples tragar d