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Bala

 - Acha que devemos nos beijar? A cena: eu e você sentados no seu sofá às 6h da manhã. Ainda estamos agitados do efeito da bala e minhas costas doem perto da lombar. Minhas pernas estão em cima das suas e suas mãos se ocupam de uma tijela com frutas que você cortou há cinco minutos atrás. Nossos hálitos cheiram a manga fresca. - Sim. - você me responde. E ri. - Também acho que sim. - respondo - Mas espera. Levanto as duas pernas, subo o tronco, passo a perna esquerda por cima das suas e me sento no seu colo, de frente. - Quero antes sentir sua respiração e seu pulso. Antes de terminar a frase, encosto minha mão no seu pescoço e procuro seu pulso com dois dedos. Ao mesmo tempo, aproximo meu rosto do seu, te olho nos olhos, e respiro sua respiração. Sinto que seu cheiro entra em mim e faz um passeio pelas minhas veias. Enquanto passa pelo fluxo do meu corpo, arrepia meus pelos e me faz prender o ar. Seu pulso? Tão rápido. Certamente das substâncias ingeridas combinadas com a ace

Un compliment au temps

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Este é um agradecimento ao tempo. Ao tempo que me faz cada vez mais sábia, que me ensina sobre mim mesma. Hoje, 1 ano, sete meses depois, descobri que vivi numa tensão horrível entre 2020 e 2023. Só hoje. E só o tempo pôde me ensinar isso. Indiscutivelmente sou mais feliz, mais livre, mais leve. Sou a melhor versão de mim mesma. Conectando, rompendo laços, não me sujeitando ao que não quero. Me aperfeiçoando nas minhas falhas, corrigindo meus comportamentos. Agradando menos, me permitindo mais. Escutando meu coração, preservando meus amores. Mal posso esperar para encontrar a Beatriz de 40, de 50, de 60. Caminho para ser minha própria mestra. Ao meu lado, carrego todos que me permeiam, que me nutrem. E carrego meu amor próprio, cada vez mais cristalizado, adornado.

Un hommage à l'amour

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  Eu queria saber explicar o amor. Dissecá-lo em pedacinhos e analisar suas fórmulas e caminhos. Queria poder entendê-lo na sua profundidade, estudá-lo dia a dia e, depois de anos isolada numa cabana, surgir com as diretrizes que guiam minha forma de amar. Mas, felizmente, o amor é um mistério sem fim, como um oceano. E pode ser sentido de tantas formas, com tantas pessoas e em tantos momentos que faz com que as variáveis sejam infinitas e absolutamente absortas. O único jeito de desbravá-lo é vivendo sem ressalvas, sem medo, sem hesitações. É permitir que o sentimento possa florescer no peito, que ele amadureça lentamente para que, na hora certa, possa ser mordido e ofereça a doçura que o tempo lhe concedeu. Que sorte a minha a de confiar no amor. Sorte de me permitir morrer e nascer pelo e para o amor. Acho que é o descontrole do amor que o faz viciante e me dá mais vontade de experimentar tudo o que ele pode oferecer. Por isso penso em formar uma família; imagina a explosão de amor

l'obsession

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  Tem um perfil de pessoas (no caso o meu), que fica obcecado pelas coisas. A obsessão pode ser muito incrível quando te leva pra uma nova profissão, quando te faz se mudar de país, quando faz você aprender uma nova língua ou desenvolver uma nova habilidade, mas ela tem um grande ônus que é te cegar. Na mesma medida que você precisa ignorar tudo ao redor para focar num objetivo e alcançá-lo, às vezes também esse hiper foco te faz não perceber detalhes importantes e coisas que deveriam ter sido levadas em consideração. Mas, bem, esse é o preço a pagar. Sou obcecada em me relacionar, também. Nitidamente. Talvez isso tenha a ver com o fato de que sempre achamos que o tempo melhora as coisas, que as coisas se acertam, que, assim como nossos pais e avós, o amor consegue se perpetuar de forma silenciosa e lenta. Ledo engano. Observar de fora relacionamentos não nos dá a menor ideia de como é se relacionar quando se está dentro de um. Muitas das crenças provavelmente foram 50% observação e os

Adaptabilité

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  A maior qualidade de ser humano é a inteligência. A segunda maior qualidade é a adaptabilidade. Isso explica porquê alguns seres humanos conseguem viver em cenários tão extremos, de frio, guerra, ou falta de recursos básicos, enquanto outros precisam de uma estrutura tão específica para dormir, tomando melatonina. Tudo incomoda na proporção que nos é entregue. E tudo nos é irrelevante na mesma proporção. Quando mudamos de cenário, de personagens, de roupa, as proporções também mudam. E o maior alterador de proporções que existe é o tempo. Tão maravilhoso, tão generoso. Porque, na verdade, tempo e adaptação correm juntos e permitem que as coisas mais banais se tornem monstruosas, e que as mais horríveis se tornem belas. Se, há um ano atrás, disesse pra mim mesma que estaria feliz, genuinamente feliz e realizada, me sentindo uma das personagens de Sex and the City (do nada!!) eu nunca acreditaria. Nunca acreditaria que tantos rompimentos me fariam encontrar uma pessoa tão maravilhosa,

Le coeur brisé

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  Como o amor pode florescer de um coração partido? Fico me perguntando se cresce pelas ranhuras, ou se abraça as feridas como uma trepadeira. Talvez germine pela parte mais superficial e tenha mais raízes do que caule, remendando os cortes. Acho que o processo de cura das feridas depende de inúmeros fatores, mas tenho certeza, também, que um novo amor tem a receita do adubo certo pra agilizar a cicatrização. Ainda mais o amor do cuidado, da atenção ativa, da clareza com sensibilidade e senso de humor. O amor dos beijos, mas também do espaço, o amor da construção, com toques do inesperado e do não planejado. Uma matemática estranhamente combinada, um formato que nunca tinha visto antes. É estranho como um porto pode ser identificado tão descarada e rapidamente, enquanto esse poço de segurança e tranquilidade. É bom sentir esse útero. E, me parece, que é a primeira vez que o estou sentindo. Um acalento profundo e envolvente. Tanto em comum que chega a dar desconfiança: será mesmo que is

L' océan

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  O amor é um oceano. Com tantos mistérios e profundezas, mas com uma costa esplêndida, que encanta e perturba. Guarda segredos infinitos, é impossível descobrir todos os seus cantos, todas as suas belezas e todos os seus horrores. São inúmeros, infindáveis, alguns ainda nunca vistos antes. Tem suas ressacas terríveis, que invadem a terra firme, e tem suas marés baixas que se afastam tão lentamente que às vezes nem percebemos. Tem quilômetros a serem navegados, mas a pressão subaquática pode comprimir os pulmões e deixar sem ar quem se arrisca a ir muito fundo. Mas também é só quando corre-se o risco que se veem todos os segredos que às vezes nunca foram vistos. Hoje, pela primeira vez, o mar abrandou. Não fui tocada pelos horrores das tempestades catastróficas e senti o marasmo e o cheiro de sal que carregam as memórias. Hoje, só hoje, os milhares de caminhos que podem ser navegados me levaram à doçura do amor. Navegante, ou náufraga, talvez nunca consiga dizer. Talvez dependa da pers