Dormir au soleil


Eu já tinha chegado perto de um desmaio há muitos anos atrás, numa aula de pole dance. Foi muito esquisito porque comecei a ver umas manchas pretas e imediatamente meu professor me sentou e ofereceu água. Mal sabia eu que esse quadro iria se repetir.

Hoje foi um dia quente, mas aqui na serra tem chovido todos os dias à tarde. Hoje não seria muito diferente. Acordei sete e meia, assisti aula de métodos quantitativos, bateu fome e tomei café da manhã antes mesmo da aula terminar (uma das maravilhas que o home office pode proporcionar é desligar a câmera para comer tranquilamente). Deu preguiça, mas sugeri pro Antonio de caminharmos antes que a chuva chegasse e depois de uma hora de preguiça resolvemos sair.

O dia estava muito bonito e logo o sol se mostrou bem valente. Cumprimentamos Carlindo na varanda e fomos rumo à nossa suadeira do dia. Um belo dia!

Subimos o morro do Boa Sorte com várias ladeiras íngremes e algumas flores nos cabelos. Daí resolvemos comprar um mel e fomos até a ponte, mas estava em falta. Puxa! Começamos a voltar para casa.

Tenho uma grande técnica para os dias de sol rascante: corro no sol e ando na sombra, o que significa um aproveitamento dos momentos fresquinhos e uma ligeireza nos momentos queimantes. Ensinei minha técnica para Antonio, que não parece ter curtido muito.

Há 200 metros da nossa estimada casa, dei uma corridinha numa subida árida e parei numa sombra. Aguardei os lentos passos de Antonio, mas percebi que algo estava errado.. Eu já estava me sentindo cansada, mas tinha algo estranho acontecendo.

Comecei a ver borrões pretos, assim como os que vi anos atrás. Logo depois dos borrões algo muito mais estranho aconteceu: todas as coisas que eram iluminadas pelo sol (árvores, chão, pedras, folhas) começaram a se tornar uma grande massa de luz, sem distinção. Quando isso aconteceu um desespero bateu. Antonio já tinha chegado e eu disse: "não estou me sentindo bem". Com os olhos fixos... dormi.

Sabe aquela caída no sono quando você está no ônibus? Ou quando está lendo na cama? Aquele momento que você pisca os olhos, sonha durante 5 segundos e depois acorda? Esse foi o sentimento e me senti leve como uma pluma! Acordei com os gritos desesperados do Antonio me chamando.

"Bia, bia, bia!!!"

Voltei. Pareceu aqueles efeitos especiais de cinema que o personagem sai da sua própria cabeça e depois volta com um efeito sonoro de sopro de fumaça ao contrário. "Preciso beber água".

Andamos um pouco e logo estávamos em uma pousada. Parei no portão enquanto o Antonio foi pedir ajuda a uma pessoa que trabalhava no lugar. A essa altura comecei a sentir meus ouvidos entupidos e pensei que poderiam ter sangue. Toquei para verificar, mas não havia nada. Me apoiei e pensei: "Agora tá tudo bem".

Ledo engano.

Os borrões voltaram e só tive tempo de gritar "Estou passando mal de novo".

Consegui andar até debaixo da marquise. Sentei num banco. Olhei para frente e vi dois chalés, grama, árvores, o céu. De novo, toda a luz começou a estourar e parei de discernir entre as coisas. Comecei a ver o clarão. Estava já cega quando ouvi que a água tinha chegado e consegui estender a mão. Tomei rapidamente o primeiro copo. Depois o segundo. A pressão subiu.

Antonio me disse que meus olhos ficaram fixos no horizonte e as pupilas dilatadas. Eu imagino que tenha sido assim mesmo porque só me lembro de tentar discernir entre as coisas e não conseguir mais. Muito esforço e nenhum retorno. Meus ouvidos ainda estavam entupidos, mas parecia que, depois da água e da sombra, tudo estava voltando ao normal.

Antonio foi buscar o carro e fiquei conversando com Sara. Com dificuldade comecei a juntar palavras em frases. Depois, consegui interagir, respirar e continuar. Antonio entrou com o carro, me levantei, me despedi de Sara e voltamos rindo de nervoso. Afinal, que sufoco é desmaiar!

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