Pas de sens

 



Tirei alguns dias de férias (duas semanas, mais ou menos) e fico me perguntando o que fazer esse ano que entra. Estranho pensar que quase tenho 30 anos, uma carreira acadêmica em formação – bem no estilo “deixa a vida me levar” – e uma profissão temporária freelance online, o que me toma mais tempo e menos dinheiro do que eu gostaria. 
É estranho pensar que sou adulta. Que sou casada no papel, que saí da casa dos meus pais aos 22 anos e que aprendi muito nos últimos anos. Dá um pouco de medo, na verdade. Medo porque a vida adulta parece ter vindo de mansinho. O que foi bom, porque tive muito suporte e apoio da minha família até aqui, mas também é muito assustador saber que você tem que andar com os próprios pés. Que o dinheiro e o trabalho são importantes, que há mais esforço do que descanso e mais estresse do que tranquilidade. 2020 foi um ano bizarro – a única palavra possível. Cheio de surtos de ansiedade coletiva (e global), uma pandemia que nos deixou mais conectados principalmente aos afazeres e às formas de subsistência e menos ao lazer, aos outros seres humanos e aos momentos prazerosos. Mesmo no Sana, na natureza e no dia a dia menos corrido me senti pressionada, amassada e encaixotada em formatos esdrúxulos. 
Tenho medo do futuro, sempre tive. A cada ano que passa sinto mais o peso de ser adulta, de ter que administrar minha vida em todos os aspectos. Entendo a importância de um companheiro nessa empreitada e muito mais de toda a base que solidificou minha existência e que foi fornecida carinhosamente pela minha família. É bizarro existir nesse momento, é preciso muita lucidez para não pirar e não se sentir engessado no meio de tanta maluquice. 
A impressão que tenho é que esse sentimento não passará. Que conviverei com ele durante muito tempo, talvez para o resto da existência. A salvação é que há momentos de respiro, talvez seja feito disso a vida em sua essência: bons momentos, pessoas que ajudam muito e atrapalham pouco, filosofias, trabalho e ócio criativo. 
De qualquer forma, quando penso nas responsabilidades, nos trabalhos da faculdade para entregar, na mudança de país que farei, nos alunos que contam comigo para aprender a falar outro idioma, nas contas que preciso pagar, nos pratos que preciso lavar e no chão que preciso varrer às vezes me dá uma sensação louca de que não darei conta de realizar tudo. Espero que quando meus filhos vejam isso talvez eu seja uma pessoa mais sã, organizada e que tenha conseguido ver sentido nisso tudo. Mas a impressão que tenho é de que nunca conseguirei ver sentido algum.

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