Das coisas que aprendi recentemente: Sou especial do jeito que sou. E sei que sou um pouco diferente. É difícil gostar de pessoas e sentir medo de não ser aceita, mas é importante ser sincera consigo mesma desde o princípio. Claro que não preciso dizer tudo sobre mim desde o primeiro momento, mas dá pra saber quando alguém se sente interessado no que falamos / dizemos e vice-versa. Insistir com quem me faz sentir vergonha de ser quem sou é ruim. Não devo persistir nisso. Esse é o maior aprendizado dos últimos meses. Não tem nada de errado em ser como sou e, se as pessoas têm julgamento a meu respeito (errôneos ou não) e, especialmente, se querem que eu me encaixe em um formato, então preciso me retirar o mais rápido possível. Falar é muito bom, mas os sentimentos talvez sejam os nossos melhores guias. Esse exercício tem sido importante também, porque durante meu processo de separação houve muita pouca comunicação verbal, mas muita comunicação não verbal e muitos sentimentos intensos, q...
Quando sentimos uma opressão social talvez não percebamos o quão capilarizada e subentendida ela de fato seja na nossa vida cotidiana. Com o (terceiro?) levante do movimento feminista no século XXI veio também muitas demonstrações de machismos cotidianos, as cantadas de rua, o assédio no trabalho, na escola, o estupro dentro da relação amorosa, a subjugação da capacidade feminina em ambientes antes majoritariamente masculinos, o medo do abuso sexual, a prostituição compulsória e a lista vai até onde houverem páginas para isso. As novelas estampam os relacionamentos abusivos, o empoderamento da mulher, a capacidade intelectual que temos. Está tudo aí. Mas eu nunca senti tanto poder na minha vida quanto ao dizer "não" em ser penetrada. E ninguém nunca me contou isso. Quando a penetração começou a doer no meu relacionamento heterossexual, deram rapidamente um nome: vaginismo. Ou qualquer coisa assim, existem vários nomes para dor na penetração e todos têm a ver com uma ...
Acho que conheci Maria no segundo ou terceiro dia em Lisboa. Ela é minha vizinha do sétimo esquerdo. Uma senhorinha de um metro e sessenta, cabelos brancos, olhos claros e usa óculos. Maria me recebeu tão amorosamente que nem entendi. Não esperava logo de início já conhecer uma vizinha e me dar tão bem com ela. Aos poucos, todas as vezes que nos encontrávamos na entrada do prédio, íamos conversando amenidades, ela me mostrava fotos da família, me contava sobre o bairro, sobre o prédio, sobre os vizinhos, sobre o mundo. Em dois anos, Maria acompanhou meus relacionamentos românticos, meus amigos hospedados, cuidou das minhas plantas enquanto eu viajava, me trouxe picolé, pão e almoço, me deu muitos beijinhos, me ajudou a ligar para o chaveiro quando me tranquei para fora de casa. Às vezes sentamos nas escadas do prédio como duas garotinhas e falamos sobre a vida, outra vezes bebemos cafezinho na mercearia de baixo ou no restaurante da frente. Ela para para falar com todas as pessoas, sem...
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