"Sua mãe bateu

a porta de casa cansada. Tinha os olhos baixos, os ombros curvados para frente e transbordava tristeza de sua alma.
Johanna poderia muito bem perguntar o que houve e escutar um “nada” em resposta. Mas ela não faria isso, nunca fazia. Sabia exatamente como sua mãe funcionava e o que ela desconhecia tinha medo de testar. Não porque poderia levar uma surra ou algo do gênero – sua mãe raramente lhe batia -, mas tinha medo de não conseguir entendê-la, da mesma forma que achava que a mãe não a entendia. Tinha um amor profundo por ela, mas era impossível demonstrá-lo. Na verdade não sabia porquê – nunca soube -, e tinha que confessar que isso não costumava preocupar sua cabeça. As coisas sempre foram assim, por que deveriam ser mudadas? Queria contar de várias coisas que lhe aconteciam: Do livro que lia na livraria do sr. Tonker, das aulas de inglês que assistia na escola vestida de menino porque meninas não podiam entrar, de como não gostava de ir mais na casa de seu avô porque lá exalava o cheiro de sua avó (e já havia sofrido demais com a sua partida anteriormente, para quê ir à lugares onde teria que suportar mais ainda essa dor?), de seu amor que sugava diariamente todas as energias de sua alma juvenil... mas como contar coisas dessas? Ela talvez não aprovasse, talvez brigasse, talvez não entendesse. Sempre que Johanna tentava falar sobre seus problemas com a mãe – o que devia fazer uns dois anos, no mínimo – sentia nunca estar sendo completamente compreendida. Vicent, pelo contrário, sempre escutava-a com atenção. Mas mesmo sendo um ótimo irmão, não tinha experiência o suficiente para lhe dar conselhos. E ela, também, nunca contaria de seu amor para ele. Parecia só... inadequado, talvez. Amigas também não serviam para essas coisas. Na verdade Johanna não tinha muitos amigos, era muito seletiva e nunca confiava muito nas pessoas por causa de histórias passadas. De qualquer forma, ela sentia-se muito insegura por guardar uma coisa tão grande dentro de si mesma. Por isso às vezes escrevia, para tentar descarregar toda tristeza e aflição que uma menina de catorze anos pode sentir. Talvez não era muito, talvez era por causa disso que não conversava com a mãe. Tinha catorze anos, seus problemas eram inúteis. Futuramente ela teria problemas sérios como dinheiro e filhos – mesmo não lhe agradando a idéia de pôr mais gente no mundo, principalmente porque percebia que em Londres as ruas lotadas eram absurdas. Em todo o caso, ela sabia que não poderia falar nada. Não agora, não para a mãe. Mas isso não diminuía seu amor, só deixava-o escondido numa caverna, no fundo do seu coração, esperando o inverno passar para sair de seu peito e aquecer as pessoas que realmente lhe importavam.
O problema era que esse inverno não acabava nunca."

07/09

Commentaires

Erik Temporal a dit…
é seu ? =o / foda :]
Bib a dit…
Hahahha eu achei que ficou com muita informação, sei lá. Não curti muuuuuito, foi mais um desabafo, acho.

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