#03

O ônibus balançava com brutalidade. O calor de trinta graus na sombra não ajudava aquela tarde à melhorar, felizmente ventava de leve e era a única coisa que havia de refrescante dentro do automóvel. Haviam dez pessoas no máximo, e o suor escorri na testa enrrugada do trocador; aquilo definitivamente não era para ele.
Uma garota confusa ofereceu-lhe dinheiro, e era tentador pegá-lo, mas o motorista estava de olho por causa da última vez que furtou algo.
Um garoto entrou, o ônibus todo olhou-o com desconfiança. Tinha um maço de cigarro nas mãos, louro natural nos cabelos, a pele levemente morena e no máximo doze anos na cara.
- Quanto é a passagem?
O trocador olhou-o de lado, abriu a boca, fechou, e finalmente disse.
- Dois e vinte - respondeu mau-humorado.
O garoto tirou uma nota de cinco reais da parte plástica do maço e lhe entregou, recebendo o troco em moedas de pequeno valor, pondo-as no bolso da bermuda larga.
Sentou-se na frente de uma menina de uniforme, o ônibus balançava com brutalidade e o calor agora entrava seco por sua janela.
Tirou a blusa, um alívio momentâneo tomou-lhe. Suas costas tinham queimaduras feias, mas não ardiam, não mais.
Um vendendor entrou no ônibus, limpando o suor debaixo do queixo. O ônibus balançava com brutalidade.
- Água um real!
- Me dá duas? - perguntou o menino, tirando uma nota de dois reais do mesmo bolinho de dinheiro dentro do plástico. Deu uma das garrafas para o trocador, sorrindo. Mas o ônibus balançava com brutalidade.
- Tá fresquinha, né?! Pra ver se você acorda! - riu ele.
O contador olhou para a garrafa, não sorriu, mas abriu-a com cuidado e bebeu.
O menino continuou sorrindo. Olhou para trás umas duas vezes, bebeu alguns goles d´água, coçou as queimaduras, sorriu.
Mas o ônibus balançava com brutalidade.

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