David de Michel-Ange

Que coisa estranha o amor,
É um sopro quente que envolve o rosto, faz iluminar o sentir, dá cor pro viver e sentido pras coisas mais banais. O amor irrita e embrulha, queima e congela, remexe todos os órgãos, faz a vida pulsar tão vibrante que não cabe no peito.
O amor também acalenta, sossega, põe pra dormir. O amor é loucura e afago.
É possível ser tão vibrante e tão acolhedor durante tanto tempo? É possível ser essa máquina de produzir sentimentos initerruptamente, provocando os nervos e atiçando os bulbos capilares?
Esse amor é o que acontece nos livros, nas novelas, nos filmes, nas séries ou existe um amor que realmente pode envolver tudo isso? A forma que olhamos o amor molda ele? De que amor estamos falando?
Pra mim não parece ter fórmula mais concreta do que essa: a insanidade e a calma de gostar de alguém tão profundamente quanto gostar de si. Ou muito próximo do gostar de si.
E nas milhares de aventuras que podem ser vividas nos seus tortuosos caminhos, não será a separação também mais uma das grandes aventuras, dos grandes sentimentos colossais que podem ser vividos nesse mar de emoções? A única questão é que, na separação, não há acalento, só a tristeza e a felicidade intensa de ser só, dona de si, mas só.
A solidão também acalenta quando vem como alívio, mas não quando vem imposta pela limitação da fronteira do amor. A solidão que faz perder de vista os tijolos que estavam sendo postos um em cima do outro, numa matemática estranhamente infalível - ou pior, fadada à falha.
"Tudo vai cair um dia" - você me disse - "Todas as árvores, todos prédios, o Davi de Michelangelo também vai cair um dia". A missão de tudo é voltar para o chão, se misturar ao solo, apodrecer e germinar, num eterno ciclo sem fim.
Talvez a construção que o amor faz também esteja fadada a cair como o Davi de Michelangelo. Não porque é instável, mas porque seu destino final é esse: cair, se quebrar, e seus pedaços serem usados para outra construção, e outra, e outra, até o fim dos tempos.

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