Ce que le sexe m'a enseigné sur la vie



2019 foi o ano que eu mais estudei sexualidade em toda a minha vida.
A princípio um processo que foi engatilhado por algumas dificuldades fisiológicas, mas terminou por ser o encontro com um portal que me sugou pra outros universos.
Todos nós sabemos que o sexo é um grande tabu na nossa sociedade e que no meio de tanta pornografia, culpa, religião, vergonha, assédio e pudor é difícil encontrar uma sexualidade que seja saudável. Talvez isso nem exista: sexualidade saudável. Talvez a sexualidade só seja cultural mesmo e a gente vai tentando se sentir cada vez mais feliz nessas práticas.
Aqui vou anotar práticas e as consequências que essas práticas trouxeram para a minha vida durante todos esses anos.
Todo o processo me leva a pensar que existe um apagamento do corpo e uma exaltação da racionalidade e por isso tudo que envolve tão profundamente o corpo (como o sexo) é difícil de ser compreendido.
Eu entendi que tem certas coisas que só o corpo é capaz de traduzir como prazerosas ou não. A racionalidade precisa ficar de fora quando o assunto é corpo. E corpo tem tudo a ver com amor, especificamente amor. Amor não é racionalizado, amor é sentido e é sentido pelo corpo.

Bondage

Eu sempre tive um pouco de preguiça de ser amarrada. Geralmente a amarração em si demora um pouco e isso sempre me tirava um pouco a libido, mas melhorava quando tudo estava pronto e era só partir pro ataque. Mas havia um tempo muito certo pra mim no bondage e nem sempre esse tempo acontecia da forma que eu gostaria.
Tudo começou a mudar quando eu deixei de ser a pessoa amarrada e passei a amarrar. Agora eu tinha o meu tempo para fazer tudo o que quisesse, o que aparentemente deixava meu companheiro feliz. Com o bondage eu aprendi uma coisa que nunca tinha experienciado antes: o sexo no meu tempo. Exclusivamente meu tempo. Descobri muitas coisas sobre como gosto de tocar e ser tocada, qual o tempo certo para chegar à genitália, qual a abordagem que eu estava mais a fim no dia (dominante? Ou uma massagem relaxante e muitos mimos? Eu decidia!). Pela primeira vez parei de depender do tempo do outro e pude explorar o que era bom pra mim: um grande exercício de auto-conhecimento e auto-tesão. Todos ficamos e ainda estamos felizes com as novas descobertas, mas definitivamente sou mais a pessoa que amarra do que é amarrada.

Sadismo e Masoquismo

Que grata surpresa a de conhecer o outro lado da moeda! Devo muitas das minhas descobertas nesse âmbito à Dommenique Luxor, minha guru no assunto.
Eu achava que a única coisa que poderia me caber no Sadomasoquismo era apenas o masoquismo, mas alguma coisa não parecia muito certa. Depois de conhecer Dommenique eu me abri para o sadismo e que grande descoberta!
O sadismo entra naquele lugar de despir-se das culpas, dos pensamentos de "será que ele/ela está gostando?" e começar a olhar só para você. É sempre bom lembrar que tudo, absolutamente tudo no sadomasoquismo tem que ser seguro e consensual. Não podemos também esquecer da maravilhosa palavra de segurança.
Exercitar a dominância foi uma das melhores coisas que poderia ter me acontecido: sinto que cada vez me livro mais desse sentimento de incômodo pelos outros, como se eu não estivesse agradando e me preocupasse com isso. Não vamos agradar sempre.
Uma outra observação importante é: o sadomasoquismo é muito mais gostoso, seguro e comunicativo quando você está com alguém que você ama e confia. Tudo que eu aprendi foi na base de muita conversa e muito amor.
A dominância me fez me colocar melhor no meu dia a dia: no trabalho, no ambiente universitário, na família e nas situações constrangedoras com homens desconhecidos. A dominância está me fazendo cada vez mais bem colocada no mundo, porque estou trabalhando coisas muito íntimas num lugar de muita confiança e amor e assim é sempre mais fácil expandir para o resto do mundo.

Bissexualidade

Eu acho que não poderia ter nascido de nenhum outra forma, além de bissexual.
O sexo com mulheres foi uma das coisas mais maravilhosas que já me aconteceu na vida: a intensidade, a conexão, a horizontalidade, a calma. Não existe pressa para chegar a lugar nenhum e não é preciso performar nada. O que vale é o sentimento, o tesão, o corpo todo em sintonia e em transe.
Transando com outras mulheres eu aprendi que não sou só genitália, que não sou performer de nada, que meu sons não precisam ser iguais ao de ninguém, nem meus cheiros, nem meu gosto. Que minhas formas são minhas e as delas são delas. Que a pele é o maior órgão do corpo e que roçar as peles é melhor do que qualquer orgasmo, porque o orgasmo é um pico de tensionamento seguido de relaxamento e o roçar das peles é só pulsão magnética contínua e que pode durar pra sempre.
Eu amo muito estar com outras mulheres. Aprendi muitas coisas, tão especiais, que seriam impossíveis aprender no sexo heterossexual.

Escatologia

Hoje eu tive que dar banho em outra pessoa pela primeira vez.
Meu avô está muito velhinho e debilitado e estava sem tomar banho há cinco dias. Ele estava com muita vergonha de que qualquer pessoa desse banho dele, daí quando cheguei lá disse que eu iria dar banho nele porque ele já havia me dado muito banho nessa vida.
A racionalidade faz a gente se distanciar dos corpos e achar que tudo é sujo e nojento. Mas corpos são só corpos, cocô é só cocô, xixi é só xixi, menstruação é só menstruação e catarro é só catarro.
Todos temos.
Todos lidamos com esse fluídos e rejeitos do nosso corpo.
No sexo existem muitas barreiras também que ainda encontramos: os homens não gostam do fio terra por questões relativas à sexualidade; pessoas com vulva têm medo de fazer xixi na cama e por isso não relaxam para ejacular; pessoas que fazem sexo anal precisam fazer um enema antes da relação porque se houver cocô é o fim do mundo; mulheres deixam de fazer sexo quando estão menstruadas por se sentirem sujas.
É óbvio que não desconstruí todas as coisas, os fluídos ainda são questões e nem sempre dá vontade de lidar com eles. Mas desde que comecei minha vida sexual e cada vez mais venho desconstruindo o que existe no nojo e no sujo. É bom quando você se relaciona com alguém em que o acesso ao corpo é irrestrito, que você sabe os cheiros, os gostos e as texturas de tudo o que aquele corpo pode oferecer.
A escatologia - ou o sexo sórdido - me ensinou que um corpo é apenas um corpo. Não há nada mais nele. Tudo o que pode haver de "sujo" tem no meu corpo também, e está tudo bem.
Hoje dar banho no meu avô sem nojo, sem "não me toques" foi algo que aprendi no sexo de descobrimento, amor e companheirismo com quem eu amo.
Tudo está interligado.



O sexo pode nos ensinar muitas coisas quando nos desprendemos dos tabus e das vergonhas. E aplicar essas novas descobertas no dia a dia é maravilhoso!
Sexo é sobre o corpo sentir e te ensinar coisas.

Meu corpo me disse que eu podia amarrar alguém e fazer as coisas no meu tempo.
Minha racionalidade no dia a dia me faz ser mais doce comigo mesma e respeitar meu tempo com tudo.
Meu corpo me disse que eu podia ser dominante e me posicionar de forma firme.
Minha racionalidade no dia a dia me faz ser mais assertiva e não me sentir constrangida pela fala de um homem.
Meu corpo me disse que eu podia demorar pra gozar, sentir minha pele e só tocar na minha genitália se eu quisesse.
Minha racionalidade no dia a dia me faz ser mais carinhosa com as pessoas, porque carinho não tem correlação direta com sexo, mas sim com querer estar perto, estar bem, dar amor e transparecer os sentimentos verdadeiros.
Meu corpo me disse que os fluídos corporais de outra pessoa são iguais aos meus e que se não tenho nojo do meu corpo não teria porque ter nojo de outro corpo.
Minha racionalidade no dia a dia me permite me aproximar de pessoas marginalizadas (moradores de rua, pessoas com algum tipo de doença estigmatizada, etc) e a cuidar da saúde física do meu avô que precisa tanto de mim.

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