Rafael


Já meio atrasada parei no sinal. Impaciente.
Vi um homem, alto, usava uma bermuda e nenhuma camisa. Tava calor pra caralho. Pediu alguma coisa pra uma menina que tava esperando o sinal abrir. Depois de uma provável recusa ele se afastou e a menina foi pro meio da rua.
Ele continuou. Entrou em uma lanchonete e falou com outra mulher – depois de passar por uns dois homens que também estavam sentados no balcão. Falou alguma coisa, a mulher lhe deu uma nota de dois reais e mais algumas moedas. Ele parecia apontar pra uma lanchonete do outro lado da rua.
Atravessei quando o sinal fechou. Cheguei perto, ele nem percebeu.
“Ei, nego, vamo lá que eu te pago”
Toquei nele. A pele seca.
“Pô, brigadão”
Entramos numa lanchonete que tinham uns pratos feitos. Um chinês atendia. Em cima dele um cardápio com vários pratos, de R$15 a R$19.
“O que você quer?”
“Frango empanado”
Debrucei no balcão. Pedi um frango empanado pro chinês.
“Pode ser um guaraná também?”, ele pediu.
Não olhei pra ele. Pedi um guaraná pro chinês. Esperei. Olhei pra ele.
“Qual seu nome?”
“Rafael”
“Prazer, querido, sou Bia”
Encarei o chinês. “É débido”. “É de passar”.
Rafael olhava pra não sei onde. Talvez pra mim, talvez pro balcão, talvez pro chinês.
“Brigado, Bia”
Putz, lembrou meu nome.
Fala aí Rafael, que que tu tá fazendo aqui?
Ah é? Quantos anos você tem?
Eu chutaria uns 18, 19 no máximo.
Tu é bonito pra caralho, hein nego!
Ele sorriria. Provavelmente agradecia o elogio.
Fala aí meu irmão, quer dizer que você tá aqui por causa disso?
Eu sentaria do lado do Rafael.
Putz, eu perguntaria da vida toda do Rafael.
Fala aí, nego. Onde tu mora?
Que que tu gosta de fazer?
Seu nome é com “F” ou com “PH”. Ele responderia, riríamos disso.
Você gosta de futebol? Tu tem cara mesmo que é vascaíno – ou botafoguense, ou flamenguista, foda-se, ele teria cara de qualquer coisa que me respondesse. Eu zuaria, talvez. Nem ligo pra futebol, na real.
Mas, agora, fala pra mim. Se você tá aqui por causa disso, por que você não tá fazendo aquilo?
No domingo você gosta mais de curtir a praia ou de comprar umas cervejas e chamar a galera?
Me fala, Rafael, qual foi a última vez que você se apaixonou?
Você ainda gosta dela então.
Pô, mas vacilou né, irmão. Tu nunca podia ter feito isso.
Pode crer.
É, tem razão.
Ô, nego, tenho que ir, tem uma galera me esperando. Posso te dar um abraço?
Eu abraçaria Rafael até ele me soltar. Putz, com certeza.
“Se cuida, hein irmãozinho”
Sorri.
Ele sorriu de volta – dessa vez sem ser na minha imaginação.
Inspirei forte. Fui pro ponto de ônibus.
"Putz, nego, fica com deus", eu diria pro Rafael.

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