Pela revolução da entrega



É importantíssimo se construir como ser político (num sentido bastante senso comum, nesse caso) numa sociedade que segrega e oprime minorias. É necessário se engajar, lutar, reconhecer seus privilégios, apoiar as lutas nas quais você não é protagonista e talvez mais do que isso, ter um dever: o de não se acomodar.
Um mundo que perpetua relações opressoras, no entanto, tem aspectos crucias para a manutenção da segregação, tais como o medo, a ignorância, a falta de tolerância e de empatia pelo outro, o egoísmo, a raiva, a expectativa e assim por diante. A hostilidade nos contamina e nos faz reproduzir, interna e externamente, o fato de sermos um sintoma dessa intoxicação contínua; exatamente por isso que lutamos - somos um sintoma de todo esse ódio.
O conhecimento nos proporciona a capacidade de compreender o porquê de algo estar errado ou de ser prejudicial, o problema é que esse esclarecimento pode se tornar nocivo à nossa sensibilidade. Ao nos depararmos com a complexidade de um problema e da dificuldade de solução deste, sentimos as mãos atadas, a garganta secar, o embrulho no estômago; o sentimento de impotência.
No processo de construção de um mundo mais harmônico e igualitário é preciso perceber que nós somos corpos moldados para o medo e o egoísmo. É preciso perceber que a angústia só se esvai quando somos também capazes de livrarmos do veneno tóxico que nos foi ensinado a engolir, e isso tem um viés extremamente espiritual.
O mal estar na civilização é um processo inconsciente e muitas vezes incontrolável. Perceber um erro (ou inúmeros) e ter a gana de fazer a diferença é essencial, mas talvez seja necessário se livrar do aspecto mais vil e perpetuador desse mal estar: a desarmonia conosco e (consequentemente) com o mundo ao nosso redor. Porque é assim que esses aspectos tão corrosivos conseguem se manter em vigor. Não adianta o conhecimento e a revolta às injustiças se não buscamos (por início, meio e fim) a harmonização dos corpos, o embate pode se fazer necessário (e, sim, ele é!) mas perde-se quando o foco deixa de ser o equilíbrio pleno. O presente é mais importante e cada segundo torna-se oportuno para a mudança frente a hegemonia.
Ter em mente que cada momento pode estar sendo desperdiçado pela dúvida e pela desarmonia nos faz perder nossa maior oportunidade de mudança: a conexão com o outro. Conexão essa que reformule nossas potências individuais e resignifique a indignação antes sentida, num processo não de silenciá-la mas de lhe reposicionar quanto aos pólos; trazer o negativo ao positivo no intuito de potencializar construções físicas e ideológicas como resistência à segregação e à opressão - e consequentemente ao mal estar na civilização - a fim de construir algo verdadeiramente digno das concepções de igualdade e amor ao próximo.

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