Complète


Ela acordou com o sol, do lado o tal do amor da vida dela enfiava a cabeça no travesseiro. Deu uma agulhada na garganta por causa de tanto cigarro da noite passado.
Juntava as roupas, ajeitava os livros, ia beber água, respirava com dificuldade.
E bateu de súbito, naquelas seis e quinze da manhã, uma gratidão esplêndida de corpo e alma. Corpo e alma, sim, porque ela aos poucos beijou cada um de seus dedos e as palmas das mãos, tudo pela luz da cozinha. E tocou o corpo, pegou em sua cintura, afagou os cabelos, lambeu os lábios.
Sentia-se.
Sentia-se perfeita e intocável, acordada pelos raios de sol da manhã. Sentia-se envolvida, inteira, forte e ao mesmo tempo frágil. Tocava-se, devagar, rápido, com força e com delicadeza. A pele, os ossos, os músculos, a gordura, os órgãos, as juntas, os cabelos. Tudo. Tudo em perfeita harmonia num corpo feminino. Não que fosse feminina, só às vezes era, mas via-se como mulher. Como fruto de uma mãe natureza cuidadosa e delicada.
Pisou nas pontas dos pés, se deliciou com seu cheiro, deu umas voltas e hesitou por quase cair.
Sentia-se, inteira.

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