#02

Ele entrou devagar no vagão, arrastando suas pernas cansadas e franzindo a testa com impaciência. Sentou-se numa cadeira vazia e apoiou uma caixa de papelão forrada com um papel barato rosa, fechando os olhos fortemente.
Seu quase moicano grisalho meio despenteado mesmo assim ainda não conseguia livrar-lhe as rugas da experiência, mas havia algo que o deixava ainda mais jovial. Antes mesmo das roupas esportivas de marca que usava; Um buquê de rosas.
Tão seguro em seus dedos cansados, sentindo a brutalidade de um amor cansado em seus caules delicados. Ah, e como eu desejei que aquele pequeno buquê de rosas fosse meu.
E certamente isso me lembrou meu amor, tão forte e clandestinamente me envolvendo. Eu, tão frágil quanto rosas, tão segura por aqueles dedos, tão envolvida pelo suor de suas mãos, tão iludida com um sentimento que nem nome tem e, claramente, nunca terá.
A viagem continuou. Ele não largou o buquê. Imaginava agora quem seria a pessoa de sorte à recebê-lo. Uma amante romântica, uma esposa cansada, uma filha decepcionada, uma garota qualquer da rua. Seja quem fosse, ele não a largaria jamais. E seguraria-a tão forte quanto um pequeno buquê de rosas.

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