#01
E se importava-se não mais sabia. Seus delicados pés encontravam-se brutamente quando os batia um contra o outro, no nervoso do frio grotesco. Era bem tarde e o parquinho já não tinha mais crianças brincando. “Também, quem viria a um parque com esse frio?”, se perguntou, quase por um segundo pensando em desistir. Mas resistiu. Continuou batendo seus pés um contra o outro, devagar. O vento cortava-lhe as bochechas, sentia o muco tentando engoli-la. Pigarreava uma, duas, três vezes e nada. O céu estava nublado, bem diferente do de costume. Suas coxas, geladas, sofrendo com o vento, se mexiam rápido e agonizantemente. Despertou de repente. Olhou, o céu ainda estava nublado. Bateu os pés. Dormiu. Um pipoqueiro parou do seu lado: “Quer pipoca, menina?”, perguntou. Ela queria. Meteu as mãos depressa no bolso esquerdo, depois no direito. Nada. Aquela esperança de comida talvez matasse sua agonia, mas não poderia comer, não tinha absolutamente nada para pagar o saquinho de pipoca. O pipoqueiro...